Ciências Humanas
História
Resumo
A notícia veiculada pelo G1, em 29 de junho de 2021, sobre a aprovação de Matheus Araújo Moreira, de 25 anos, para cursar Medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia despertou nossa atenção. A notícia trazia a seguinte chamada: “Jovem que estudou em casa sem energia elétrica na BA e tirou 980 na redação do Enem passa em Medicina na UFRB” e dizia ainda que Matheus realizaria uma vaquinha virtual para se manter no curso. Ao lermos a notícia, buscamos alguma menção às condições estruturais que por gerações atravessaram a família de Matheus, impedindo que ele estudasse de maneira adequada, mas não encontramos. Em nenhum momento a responsabilidade do Estado foi citada. Incomodadas, então, com a naturalização da violência social sofrida pelo jovem no trajeto para a aprovação, nossa pesquisa analisou notícias e reportagens para explicar como a meritocracia foi construída pela mídia em torno do caso de Matheus. Nesse trajeto, nos deparamos e também analisamos a trajetória de Débora Souza Rocha, que, assim como Matheus, foi aprovada para cursar medicina. Débora estudou com livros encontrados no lixo. Para embasar nossa discussão, dialogamos com os estudos “Cotas raciais e o discurso da mídia: um estudo sobre a construção do dissenso” (2018), de Zilda Martins; “A tirania do mérito, o que aconteceu com o bem comum?” (2020), de Michael J. Sandel; e “A cilada da meritocracia” (2021), de Daniel Markovits. Como resultado, identificamos que a maior parte das notícias e reportagens reforçaram o mérito individual de Matheus Araújo e de Débora Souza, responsabilizando assim o indivíduo por problemas que são estruturais. Relacionamos os resultados da investigação aos diagnósticos oficiais sobre acesso e permanência no ensino superior no Brasil. Entre eles, dados do relatório do PNAD, de 2019, e do Censo de Educação Superior, também de 2019, que confirmam a dificuldade que pessoas socialmente vulneráveis têm de ocupar o ambiente acadêmico.
Palavras-chave: Mídia, Meritocracia, Matheus Araújo e Débora Souza