Ciências Biológicas
Farmacologia
Resumo
O envenenamento por serpentes é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença tropical negligenciada. Todos os anos, esses acidentes são responsáveis por um número significativo de mortes. Em 2022, o Brasil registrou 29.543 casos de envenenamento por serpentes, causados principalmente por quatro gêneros diferentes: Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus. O tratamento envolve a administração de antiveneno, ou seja, uma solução de frações de imunoglobulina altamente específicas. A produção de antiveneno é um processo complexo, no qual camundongos são usados para determinar a potência tanto do veneno quanto do antiveneno, determinando a DL50 (dose de veneno que causa 50% de mortalidade) e a EC50 (dose de antiveneno capaz de proteger 50% dos camundongos de uma concentração de veneno previamente determinada), então usada para calcular e padronizar a eficiência do antiveneno. De acordo com o princípio dos 3R (do inglês refinement, reduction and replacement) devemos unir esforços para substituir a utilização de animais por alternativas mais éticas e sustentáveis. Nesse estudo, pretendemos encontrar um método alternativo para substituir o uso de animais em testes de toxicidade de veneno e eficácia e segurança de antivenenos. Para tanto, o veneno de Lachesis muta foi testado em culturas de células SH-SY5Y para determinar a letalidade celular induzida por diferentes concentrações de veneno. Os resultados indicam que o veneno de Lachesis muta induz neurotoxicidade em culturas de células SH-SY5Y. O antiveneno é tóxico para as células em concentrações acima de 10%. Concentrações não tóxicas de antiveneno não protegem os neurônios da citotoxicidade induzida pelo veneno. Em conclusão, os resultados mostram que as culturas de células SH-SY5Y são uma alternativa viável aos animais em testes de toxicidade de veneno. Porém, estudos adicionais são necessários para aprimorar os ensaios de soroneutralização neste modelo.
Palavras-chave: Substituição de modelos animais, Eficácia de soros, Testes in vitro