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Resumo

Ainda que alguns acreditem haver “neutralidade” em certos discursos, toda produção linguística é atravessada pela ideologia. Para Pêcheux (1997), a ideologia é um conjunto de valores e crenças construídos socialmente que refletem as relações presentes na sociedade. Nesse sentido, até os dicionários, considerados “neutros”, são atravessados pela ideologia. A partir dessas considerações, o objetivo deste trabalho é fazer um percurso histórico dos termos “preto” e “negro” em dicionários de língua portuguesa para reconhecer as marcas ideológicas encontradas nessas entradas. Para tanto, são usados como fundamentação teórica e metodológica os princípios da análise do discurso francesa, em especial os estudos de Pêcheux (1997, 2010), de Maingueneau (1997), de Orlandi (2005) e de Brandão (2004). Também recorremos à lexicografia, tanto aos estudos de Biderman (1984, 2000) e de Borba (2003) sobre a organização de dicionários, quanto à obra de Nunes (2006), que faz uma análise histórica dos dicionários publicados em língua portuguesa. Partindo do primeiro dicionário de língua portuguesa – o Bluteau, de 1712 –, até o primeiro dicionário de língua portuguesa publicado no século XX, esta pesquisa analisa como os registros das entradas mencionadas são ideologicamente marcadas e quais são os efeitos de sentido produzidos. Também analisamos se, ao longo dos séculos, houve ou não mudanças quanto ao registro de tais termos no que diz respeito à ideologia. Os resultados indicam primeiramente que, nas entradas dos dicionários selecionados, as definições são ideologicamente marcadas por um tom racista quanto às entradas de “preto” e “negro”, fruto de um discurso pró-escravidão da época de publicação dessas obras. Assim, foi possível constatar como os discursos presentes na sociedade incidem na produção de verbetes. Em segundo lugar, apesar do longo período de mais de dois séculos entre as obras, constatamos que os registros mantiveram as mesmas ideias.

Palavras-chave: Preto/Negro, Dicionários, Ideologia