Ciências Humanas
Sociologia
Resumo
Reality shifting foi um movimento que emergiu na pandemia de Covid-19 como forma de "fugir da realidade", sendo compartilhado nas redes sociais, principalmente no TikTok. Nele, os participantes realizam uma espécie de auto-hipnose que visa proporcionar o trânsito entre o mundo real e o fictício. O movimento apresentado é problemático, uma vez que, durante a quarentena, diversas crianças e adolescentes recorreram a essa atividade como lazer, a princípio, mas tiveram sua saúde mental afetada por conta das adversidades do período, o que as tornou mais vulneráveis a sucumbirem às comunidades do reality shifting. Este trabalho foi realizado a partir de revisão bibliográfica, com perfil qualitativo e descritivo. Como resultados, elencamos que o reality shifting não é praticado por indivíduos sem nenhum tipo de disfunção e/ou sofrimento e se relaciona com condições patológicas, como o sonhar acordado mal-adaptativo. Ademais, ele é comparado com tulpamancia, hipnose, sonho lúcido e sonhar acordado imersivo, apresentando congruências que indicam a combinação de uma auto-hipnose com o sonhar acordado imersivo que prejudica a qualidade de vida ao interromper relações reais e processos fisiológicos. Por conta das consequências físicas, em alguns casos mais graves, como falta de ar, espasmos musculares, ondas de frio e de calor e escuta de vozes, esse fenômeno recém-identificado possui caráter perigoso e se torna patológico. Em vista desses efeitos, a manifestação radical do papel escapista do reality shifting, o respawning, é ainda mais alarmante, porque os praticantes são motivados a cortar permanentemente seu laço com a vida real para permanecer no universo desejado. Por conseguinte, desenvolve-se, assim, uma prática que se distancia da lógica inicial do lazer e passa a constituir uma conduta evitativa, acompanhada de consequências físicas e psicológicas, o que demanda mais aprofundamento.
Palavras-chave: Reality shifting, Conduta escapista, Redes sociais